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terça-feira, 29 de julho de 2014

ONDE O POVO BRASILEIRO PREFERE COLOCAR A BUNDA?

       José Roberto Torero, no dia 22/10/11, publicou na Folha de S. Paulo a carta de despedida que o Imperador Vespasiano deixou para seu filho Tito (que o sucedeu no trono). Na carta, para justificar a construção do Coliseu de Roma, ele indagava o seguinte: “Onde o povo prefere pousar seu clunis [sua bunda]: numa privada, num banco escolar ou num estádio?”. 

         A carta foi redigida em 22/7/79, ou seja, um dia antes da morte do Imperador e há 1935 anos. Eis o seu teor:
“Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os vulcões e os jornalistas. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns senadores o criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis [sua bunda]: numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro. Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por omnia saecula saeculorum [por todos os séculos] e sempre que o olharem dirão: ‘Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou’. Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma. Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo). Esperarei por ti ao lado de Júpiter.”
      Para seduzir o povo, “pão e circo”. Onde falta o pão (economia desaquecida, PIB fraco, inflação alta etc.), o circo vira confusão e chingação (é isso o que vimos nos estádios quando anunciavam a presença de políticos). O povo, furibundo, irado, indignado, já não pousa seu traseiro (seu clunis) nos estádios, ao menos não faz isso com satisfação. Tampouco o povo brasileiro se distingue pela bunda no banco escolar. 

       A escolaridade média no Brasil (diz o relatório de 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é de 7,2 anos de estudo, a mesma que Kuwait e Zimbábue. A expectativa para a escolaridade das crianças que hoje estão na escola é estimada em 15,2 anos, igual a Montenegro e Irã. Que resta, então, ao brasileiro desgostoso? Colocar a bunda na privada. Alguns brasileiros fazem isso diariamente. Mas somente alguns! Como assim?.

    O vice-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Jan Eliasson, surpreendeu o mundo todo no dia 29/4/13 ao anunciar que, dos mais de sete bilhões de habitantes do planeta, a quase totalidade têm telefone celular, mas apenas 4,5 bilhões possuem acesso a locais adequados para defecar. 

     Cerca de 2,5 bilhões de pessoas, majoritariamente em áreas rurais, não possuem saneamento básico. O mundo está saturado com uma abundância de telefones celulares (que, hoje, já passaram de 7 bilhões), mas precisa desesperadamente de mais latrinas. Tem gente segurando papel higiênico ou qualquer outro papel em uma das mãos e um telefone celular na outra, procurando encontrar uma latrina com seu GPS (sistema de posicionamento global). Desgraçadamente, muitas vezes o aparelho informa que a latrina mais próxima está a cinco quilômetros de distância. Mais de um bilhão de pessoas (das 2,5 bilhões que carecem de saneamento adequado) não têm outra opção a não ser defecar ao ar livre [nos campos, florestas ou mares], detalhou Eliasson. 

      O povo, como se vê, prefere mesmo é colocar a bunda em lugar nenhum: ele gosta de ficar em pé, com a cabeça curvada, de olho nas minúsculas letras dos celulares, dedilhando-as sem parar, muitas vezes em busca de uma latrina.



http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/129697597/onde-o-povo-brasileiro-prefere-colocar-a-bunda?.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

NÃO CUIDA DA MORAL, MULHER QUE POSA PARA FOTOS ÍNTIMAS EM WEBCAM

       A 16ª câmara Cível do TJ/MG reduziu de R$ 100 mil para R$ 5 mil a indenização que um homem deve para ex-namorada pela gravação e divulgação de momentos íntimos do casal.

      A autora relatou que transmitiu imagens de cunho erótico para o companheiro, que foram capturadas por ele e retransmitidas a terceiros. O juízo de 1º grau condenou o requerido ao pagamento de indenização de R$ 100 mil.
       O TJ/MG manteve a condenação. Nos termos do voto do relator, o desembargador José Marcos Rodrigues Vieira, o valor do dano moral deveria ser reduzido para R$ 75 mil, mas rechaçou o argumento de concorrência de culpa da vítima. Pretender-se isentar o réu de responsabilidade pelo ato da autora significaria, neste contexto, punir a vítima.”

      O desembargador Francisco Batista de Abreu, contudo, divergiu do relator. Para ele, a vítima dessa divulgação foi a autora embora tenha concorrido de forma bem acentuada e preponderante. Ligou sua webcam, direcionou-a para suas partes íntimas. Fez poses. Dialogou com o réu por algum tempo. Tinha consciência do que fazia e do risco que corria.
Asseverando que a moral é postura absoluta e que quem tem moral a tem por inteiro, o julgador chegou a entendimento de que as fotos sensuais diferem-se das fotos divulgadas pela autora da ação.
As fotos em posições ginecológicas que exibem a mais absoluta intimidade da mulher não são sensuais. Fotos sensuais são exibíveis, não agridem e não assustam. Fotos sensuais são aquelas que provocam a imaginação de como são as formas femininas. Em avaliação menos amarga, mais branda podem ser eróticas. São poses que não se tiram fotos. São poses voláteis para consideradas imediata evaporação. São poses para um quarto fechado, no escuro, ainda que para um namorado, mas verdadeiro. Não para um ex-namorado por um curto período de um ano. Não para ex-namorado de um namoro de ano. Não foram fotos tiradas em momento íntimo de um casal ainda que namorados. E não vale afirmar quebra de confiança. O namoro foi curto e a distância. Passageiro. Nada sério.”
       Disse, ainda, o revisor: Quem ousa posar daquela forma e naquelas circunstâncias tem um conceito moral diferenciado, liberal. Dela não cuida.

         O magistrado afirmou que a vítima, assim, concorreu de forma positiva e preponderante para o fato, e por assumir o risco a indenização deveria ser reduzida para R$ 5 mil. O desembargador Otávio de Abreu Portes seguiu o voto do revisor.

     De qualquer forma, entretanto, por força de culpa recíproca, ou porque a autora tenha facilitado conscientemente sua divulgação e assumido esse risco a indenização é de ser bem reduzida. Avaliado tudo que está nos autos, as linhas e entrelinhas; avaliando a dúvida sobre a autoria; avaliando a participação da autora no evento, avaliando o conceito que a autora tem sobre o seu procedimento, creio proporcional o valor de R$ 5.000,00.Daí a razão pela qual estou dando parcial provimento à apelação para reduzir o valor da indenização fixando-a em R$ 5.000,00.


Processo: 2502627-65.2009.8.13.0701 - TJ-MG.

domingo, 27 de julho de 2014

TER DE AGACHAR, NUA, PARA SER REVISTADA É INADMISSÍVEL!

       No domingo retornando de Teresina - Piaui, passei em frente a Penitenciária Dutra Ladeira, localizada no município de Rosário - Maranhão. O sol do meio-dia, uma imensa fila de mulheres – jovens e idosas -, e algumas crianças aguardavam o momento de entrar em mais um dia de visita. 

      Muitas estavam lá desde às cinco da manhã. Outra fila se formava nas imediações da BR-316. De ônibus e carros. Motoristas diminuíam a velocidade gradativamente para verem de perto as mulheres que, cheias de sacolas nas mãos, contornavam o muro do presídio. Pareciam estar diante de um verdadeiro zoológico humano, tal qual ocorria na Europa no final do século XIX. Sem qualquer tipo de proteção, a elas eram dirigidos olhares carregados de fetichismo, desprezo e escárnio.
Penitenciaria de Rosário - Maranhão

Se do lado de fora a espera é longa, do lado de dentro da penitenciária, mulheres e crianças são condenadas pelo “crime” de ter parentesco com os detentos.

      Como pena, são submetidas a revistas vexatórias, que violam os seus corpos e ferem a sua dignidade. Uma senhora, a quem chamarei de G. C., me contou que são obrigadas a se despir por completo, fazer agachamentos e abrir o ânus e a vagina com as mãos para provar que não portam drogas, armas ou chips de celulares. 
Imagens Internet Fonte:
Tudo sob o olhar de agentes penitenciárias e das crianças. Uma verdadeira afronta à Constituiçãocom a conivência do Estado. Com autorização de G. C., cujo pai e filho estão encarcerados, reproduzo o que ela me relatou:
A visita é humilhante. Você entra numa sala com uma agente penitenciária. Daí, tira a roupa toda e agacha três vezes. Depois, deitamos em uma maca e abrimos as pernas. Fazemos força, é força mesmo. Eu chorava depois disso. Tínhamos que abrir a boca para elas verem se não tinha nada escondido. Depois soltar o cabelo. Eu chegava no pátio para ver o meu namorado chorando, pois [as agentes] acham que somos culpadas por eles estarem lá. Elas olham a comida perto do lixo. Cortam o biscoito todo e ainda por cima ficam reclamando, pois enchemos as vasilhas. Só sabemos se o preso está de “castigo” ou foi transferido na hora, pois eles não ligam para avisar.
     Ao reler essas palavras, fui tomado por uma sensação imensa de impotência. O que fazer diante de tamanha violência?. Não tenho a vaga noção do que é passar por tudo isso. Meu pai, meu irmão, meus amigos não estão presos. Minha mãe também não. Jamais cruzei os portões de uma casa de detenção. O mais próximo que cheguei desse universo foi através da leitura de alguns artigos da antropóloga Alba Zaluar e de “Estação Carandiru”, livro do médico Dráuzio Varela. 

     Ouvindo “Diário de um detento”, dos Racionais Mc’s, pude imaginar. Somente imaginar…....Porém, nada disso impede que eu fique indignado diante de tamanha violência e opressão.

     Em busca de algo que sinalizasse uma esperança, mesmo que remota, de reversão dessa situação degradante vivenciadas pela garota e pelas mulheres e crianças da fila, descobri que, segundo dados da Organização Rede Justiça Criminal, no Estado de São Paulo, entre 2010 e 2013, de cada 10.000 visitantes, apenas 0,03% portavam itens considerados proibidos. 

      Tais números revelam que o objetivo dessas práticas além de humilhar as mulheres, é inibir as visitas, uma vez que muitas desistem de visitar seus filhos e companheiros para não terem que passar por esse tipo de abuso.

     Descobri que aguarda votação na Câmara dos Deputados o projeto de lei de autoria da senadora Ana Rita (PT-ES), que proíbe a realização de revistas vexatórias. Um alento!

        Descobri ainda que a Rede Justiça Criminal lançou uma campanha nacional contra as revistas íntimas nos presídios. Através do seu site é possível enviar mensagens ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, solicitando que o projeto de lei seja aprovado com urgência.
Descobri também que, além de lamentar e me indignar, podemos participar, exigir o fim dessas revistas degradantes e desumanas, como outras pessoas e grupos já fazem.
"Acham que somos culpadas por eles estarem lá". Revistas vexatórias torturam mulheres e crianças, física e psicologicamente.

       G. C., talvez você não leia esse texto, mas ele é para você, que generosamente partilhou comigo memórias tão íntimas e dolorosas. É para todas as mulheres e crianças que eu vi na fila na porta da penitenciária. Para todas as mulheres que, pelo fato de terem seus companheiros, filhos ou amigos reclusos atrás das grades, são torturadas física e psicologicamente.  Para as mulheres que todo domingo têm a sua condição humana negada. 

Fonte: Pragmatismo Político

FETO MORTO EM ACIDENTE DE TRANSITO NÃO TEM DIREITO AO DPVAT, DIZ TJ-GO.

       O feto não pode ser considerado vítima para fins de indenização do seguro obrigatório DPVATpois não tem personalidade civil nem capacidade de direito. 

      Foi o que decidiu a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás ao negar pedido de um casal que perdeu o filho em acidente de trânsito, quando a mulher estava grávida havia dois meses.


       O julgamento havia sido favorável ao casal em primeira instância, mas a Seguradora Líder — responsável por administrar o DPVAT — recorreu. Por unanimidade, o colegiado acompanhou tese do desembargador Jeová Sardinha de Moraes, para quem a garantia material depende da vida após o parto. 

     O relator reconheceu divergências jurídicas sobre os direitos do nascituro, porém disse ter se baseado na teoria natalista estabelecida no artigo  do Código Civil.

      Moraes disse que o Supremo Tribunal Federal também adotou essa teoria ao considerar constitucionais as pesquisas que utilizam células embrionárias, pois “o embrião é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no sentido biográfico a que se refere a Constituição”. Assim, segundo o desembargador, não se pode confundir expectativa com direito adquirido.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

SORRIA, RACISTA. VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO!

    Um jovem americano virou a mais recente febre da internet depois que seus vídeos denunciando racismo se espalharam pela rede. Rashid Polo é usuário do Vine, uma rede social que compartilha vídeos de no máximo sete segundos.

     Entre zoeiras sobre a rotina de estudante e desencontros amorosos, ele costuma postar vídeos onde mostra a vigilância que sofre quando vai a uma loja de conveniência. Tudo com um humor espontâneo e debochado.

    Um dos vídeos, postado em fevereiro, parece irreal, tamanho o humor involuntário. Nele, uma senhora branca se esgueira por trás de Rashid num supermercado e tenta se esconder quando percebe a filmagem.

     Algumas pessoas poderão dizer que Rashid está vendo racismo onde não há, aplicando a chamada “race card”. Afinal, muitos adolescentes brancos, negros, asiáticos ou hispânicos têm o hábito de afanar coisas em lojas de conveniência.

     O problema é que as situações filmadas são comum. O negro que nunca percebeu um segurança seguindo seus passos no supermercado está mentindo ou é desatento. Nos Estados Unidos, inclusive, há uma expressão para designar essa situação constrangedora: “shopping while black”. 

   O país que elegeu Obama tem casos notórios de discriminação a consumidores negros. Ano passado, Trayor Christian, estudante de engenharia na época com 19 anos, foi à loja de luxo Barneys comprar um cinto de 349 dólares. Depois da compra, já na rua, foi abordado por agentes da polícia que o acusaram de usar um cartão de débito falso. “Como você poderia pagar por um cinto desses? Onde você arranjou o dinheiro?”, perguntaram os policiais, que algemaram e detiveram o rapaz.

      O ator Rob Brown, de “Encontrando Forest”, passou por situação parecida ao comprar um relógio e Oprah Winfrey foi constrangida pelo funcionário de uma loja em Zurique, que se recusou a mostrar uma bolsa de 38 mil dólares alegando que a apresentadora não teria dinheiro para pagar.

    A situação não é diferente no Brasil. O programa “Legendários”, anos atrás, fez um teste em que um negro, uma mulher branca e atraente e um rapaz efeminado entravam em uma loja, olhavam mercadorias e saíam ao mesmo tempo sem comprar nada.

     Os três atores levavam nas bolsas um dispositivo para fazer o alarme apitar na saída. Fizeram o teste três vezes. Em um deles a moça foi abordada, mas questionou e saiu sem qualquer resistência do segurança. Por outro lado, o negro foi abordado duas vezes, em uma delas com violência.

     Talvez os vídeos de Rashid mostrem apenas a neurose dos comerciantes e não casos concretos de racismo. Uma boa ideia seria um rapaz branco fazer a mesma coisa para tirarmos nossas conclusões.

     Rashid trouxe para o debate o problema da sombra que persegue negros em lojas e supermercados — e mundo afora.

Vídeos:


Ela pensa que eu estou roubando! Ela pensa que eu estou roubando! Reparem. “Ela está me seguindo pela loja o tempo to… Olha lá! Ela pensa que eu estou roubando!


Fonte:pragmatismo.jusbrasil.com.br

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A COPA E OS DOIS BRASIS: BRASILDINÁVIA E BRASILQUISTÃO

      Num passe de mágica, que o jeitinho brasileiro conhece bem, conseguiram ludibriar os jornalistas estrangeiros, durante a Copa do Mundo, escondendo deles o Brasilquistão (o Brasil que não deu certo: violento, desigual, desumano, concentrador de riquezas, pobre, sujo, sangrento, corrupto, serviços públicos de quinta categoria etc.). 

Mostraram para eles o Brasildinávia (o Brasil que está com a ponta da proa virada para a Escandinávia). Mais da metade dos 438 jornalistas pesquisados (pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, contratada pelo Ministério do Turismo) tiveram suas expectativas superadas e quase 100% (98,6%) acharam o mundial “muito bom” ou “bom”; 96,5% recomendariam uma viagem ao Brasil. As avaliações positivas deles foram as seguintes: aeroportos: 88% de aprovação; táxi: 87,7%; segurança pública: 81,8%; rodovias: 81,6%; limpeza pública: 80,4%; sinalização de trânsito e turística: 75,9%; disponibilidade de voos no Brasil: 75,1%; rodoviárias interestaduais: 69,5%; mobilidade urbana: 67,9%; telefonia e acesso à internet: 52,1%; imagem do Brasil após a Copa: melhorou (59,4%) (Carta Capital 23/7/14: 26).
      O que eles não viram? Não viram o Brasilquistão, com 276 mortes epidêmicas e diárias (154 assassinatos e 122 óbitos no trânsito) e mais de 101 mil anual. Viram a tragédia do nosso futebol (10 a 1, em dois jogos), mas não sentiram o drama na economia (que não cresce e ainda padece de forte inflação), na saúde (pessoas morrendo nas portas dos hospitais), nos transportes públicos fora da Copa (e fora dos feriados), na segurança pública (o Brasil é o 12º país mais violento do planeta e 16 das 50 cidades mais homicidas estão aqui), na indústria (que está ultrapassada), nas comunicações (que funcionam precariamente), na educação (3/4 da população é analfabeta funcional), na inovação, no uso inteligente das tecnologias, na burocracia, na política corrupta, nos partidos decréptos, na Justiça que tarda, na polícia que mata (e que também morre, no genocídio estatal), na criminalidade organizada que expande etc.
Durante o mês da Copa as televisões e rádios monopolizaram suas atenções no futebol.
Construção Aeroporto Nacional
Ficamos com a impressão de que os furtos, roubos, latrocínios, tiros, assassinatos e corrupções tinham tirado férias. Todo esse inferno diário foi eclipsado para se mostrar o paraíso (cheio de Adãos e Evas nús e sensuais, escondendo-se obviamente as serpentes e seus ovos).

        Como é fantástica a sensação do Brasildinávia e como é massacrante e torturante o nosso diaadia de Brasilquistão, com tiroteios diários nas favelas “pacificadas”, com mortes nas portas dos hospitais, com ignorância dentro das escolas, com políticos filmados embolsando o dinheiro da corrupção financiada por empresas e bancos… Que calmaria ver nas televisões apenas tiros de meta (não de canhões do Exército), tirombaços aos gols (não contra os jovens negros), ataques eficientes das seleções (não os ataques nas ruas contra nossa integridade).
       
        O paraíso se instalou no lugar do inferno, mas este está voltando ao seu “normal” (errático, sorumbático e morfético).     

          Foi elogiada a segurança nos estádios e das equipes, sem se dizer que estamos em pleno regime de exceção (a ponto de se mobilizar em todo momento o Exército, que só atua em situações excepcionais). Eliane Castanhêde (Folha 22/7/14: A2) foi informada de que mais de 12 mil argentinos foram vítimas de roubo/furto (segundo o G1), os furtos nos trens, metrôs e ônibus aumentaram 379% em São Paulo e por aí vai. 
      
      Os números completos sairão nos próximos dias. Esse Brasilquistão(que é o que nos pega no cotidiano) não tem nada a ver com o Brasildinávia que os jornalistas estrangeiros viram. Eles acharam bonitas até mesmo as nossas indecentes rodoviárias! (“sabe de nada, inocente”).

terça-feira, 22 de julho de 2014

A CULPA POR SER POBRE E NÃO TER ESTUDADO É TOTALMENTE SUA..!!!!

“Uma frase que raramente traduz a verdade, mas é o que muita gente quer que você acredite”.

      Aí a gente liga a TV de manhã para acompanhar os telejornais por conta do ofício e já se depara com histórias inspiradoras de pessoas que não ficaram esperando o Maná cair do céu e foram à luta. Pois a educação é a saída, o que concordo. E está ao alcance de todos – o que é uma besteira. E as cotas por cor de pelé, que foram fundamentais para o personagem retratado na reportagem alcançar seu espaço e mudar sua história, nem bem são citadas.
         Pra quê? No Brasil, não temos racismo, não é mesmo? Até porque o negro não existe. É uma construção social…
Quando resgato a história do Joãozinho, os meus leitores doutrinados para acreditar em tudo o que vêem na TV ficam loucos. Joãozinho, aquele "self-made man", que é o exemplo de que professores e alunos podem vencer e, com esforço individual, apesar de toda adversidade, “ser alguém na vida”.(Sobe música triste ao fundo ao som de violinos.)

     Joãozinho comia biscoitos de lama com insetos, tomava banho em rios fétidos e vendia ossos de zebu para sobreviver. Quando pequeno, brincava de esconde-esconde nas carcaças de zebus mortos por falta de brinquedos. Mas não ficou esperando o Estado, nem seus professores lhe ajudarem e, por conta, própria, "lutou, lutou, lutou" (contando com a ajuda de um mecenas da iniciativa privada, que lhe ensinou a fazer lápis a partir de carvão das árvores queimadas da Amazônia), andando 73,5 quilômetros todos os dias para pegar o ônibus da escola e usando folhas de bananeira como caderno. Hoje é presidente de uma multinacional. (Violinos são substituídos por orquestra em êxtase.)

       Ao ouvir um caso assim, não dá vontade de cantar: Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amoooooooor?

    Já participei de comissões julgadoras de prêmios e posso dizer que esse tipo de história faz a alegria de muitos jurados. Afinal, esse é o brasileiro que muitos querem. Ou, melhor: é como muitos querem que seja o brasileiro.

     Enfim, a moral da história é: “Se não consegue ser como Joãozinho e vencer por conta própria sem depender de uma escola de qualidade, com professores bem capacitados, remunerados e respeitados, e de um contexto social e econômico que te dê tranquilidade para estudar, você é um verme nojento que merece nosso desprezo. A propósito, morra!”
    
       Uma vez, recebi reclamações ligada a ações como “Amigos do Joãozinho”. Sabe, o pessoal cheio de boa vontade genuína e sincera, mas que acredita que o problema da escola é que falta gente para pintar as paredes. Um deles me disse que acreditava na “força interior” de cada um para superar as suas adversidades. E que histórias de superação são exemplos a serem seguidos.
Críticas anotadas e encaminhadas ao bispo, que me lembrou de que eu iria para o inferno – se o inferno existisse, é claro.

   O Brasil está conseguindo universalizar o seu ensino fundamental, mas isso não está vindo acompanhado de um aumento rápido na qualidade da educação. Mesmo que os dados para a evolução dos primeiros anos de estudo estejam além do que o governo esperava no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), grande parte dos jovens de escolas públicas têm entrado no ensino médio sabendo apenas ordenar e reconhecer letras, mas não redigir e interpretar textos.

    Enquanto isso, o magistério no Brasil continua sendo tratado como profissão de segunda categoria. Todo mundo adora arrotar que professor precisa ser reconhecido, mas adora chamar de vagabundo quando eles entram em greve para garantir esse direito.

    Ai, como eu detesto aquele papinho-aranha de que é possível uma boa educação com poucos recursos, usando apenas a imaginação. Aulas tipo MacGyver, sabe? “Agora eu pego essa ripa de madeira de demolição, junto com esses potinhos de Yakult usados, coloco esses dois pregadores de roupa, mais essa corda de sisal… Pronto! Eis um laboratório para o ensino de química para o ensino médio!”

   É possível ter boas aula sem estrutura? Claro. Há professores que viajam o mundo com seus alunos embaixo da copa de uma mangueira, com uma lousa e pouco giz.  

         Por vezes, isso faz parte do processo pedagógico. Em outras, contudo, é o que foi possível. Nesse caso, transformar o jeitinho provisório em padrão consolidado é o ó do borogodó. Pois, como sempre é bom lembrar, quem gosta da estética da miséria é intelectual, porque são preferíveis escolas que contem com um mínimo de estrutura. Para conectar o aluno ao conhecimento. Para guiá-lo além dos limites de sua comunidade. “Ah, mas Sakamoto, seu chato! Eu achei linda a história da Ritinha, do Povoado To Decastigo, que passa a madrugada encadernando sacos de papel de pão e apontando lascas de carvão, que servirão de lápis, para seus alunos da manhã seguinte. Ela sozinha dá aula para 176 pessoas de uma vez só, do primeiro ao nono ano, e perdeu peso porque passa seu almoço para o Joãozinho, um dos alunos mais necessitados. Ritinha, deu um depoimento emocionante ao Globo Repórter, dia desses, dizendo que, apesar da parca luz de candeeiro de óleo de rato estar acabando com sua visão, ela romperá quantas madrugadas for necessário porque acredita que cada um deve fazer sua parte.”

     Ritinha simboliza a construção de um discurso que joga nas costas do professor a responsabilidade pelo sucesso ou o fracasso das políticas públicas de educação. Esqueçam o desvio do orçamento da educação para pagamento de juros da dívida, esqueçam a incapacidade administrativa e gerencial, o sucateamento e a falta de formação dos profissionais, os salários vergonhosamente pequenos e planos de carreira risíveis, a ausência de infraestrutura, de material didático, de merenda decente, de segurança para se trabalhar.

     Joãozinho e Ritinha são alfa e ômega, a responsável por tudo. Pois, como todos sabemos, o Estado não deveria ter responsabilidade na vida dos cidadãos.

    Vocês acham sinceramente que “a pessoa é pobre porque não estudou ou trabalhou”?. Acham que basta trabalhar e estudar para ter uma boa vida e que um emprego decente e uma educação de qualidade é alcançável a todos e todas desde o berço?

      E que todas as pessoas ricas e de posses conquistaram o que têm de forma honesta? Acham que todas as leis foram criadas para garantir Justiça e que só temos um problema de aplicação?. Não se perguntam quem fez as leis, o porquê de terem sido feitas ou questiona quem as aplica?

     Como já disse aqui, uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar – inclusive libertar para subverter.
  •        Que tipo de educação estamos oferecendo?
  •        Que tipo de educação precisamos ter?
  •        Uma educação de baixa qualidade, insuficiente às características de cada lugar, que passa longe das demandas profissionalizantes e com professores mal tratados pode mudar a vida de um povo?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

ATIVISTAS PRESOS - HABEAS CORPUS - ARGUMENTAÇÃO PÍFICA.

Fonte: Imagem Internet - Sininho.
A organização não governamental (ONG) Justiça Global sobe o tom contra as prisões de ativistas no Rio de Janeiro. A entidade mandou ofício ao governo federal cobrando “mudança de posicionamento sobre o caso” e a criação de uma comissão especial para acompanhar o processo. A Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, que investiga a participação de manifestantes em atos violentos, anunciou que pediu a prisão preventiva de 26 pessoas, incluindo as 12 que foram soltas. Cinco suspeitos continuam presos e nove estão foragidos.  Os 26 suspeitos que tiveram mandado de prisão expedido pela Justiça no Rio terão que responder por formação de quadrilha armada. Cerca de 19 pessoas já foram presas na manhã de sábado (12), um dia antes da final da Copa do Mundo, que acontece no Maracanã, às 16h. Entre os presos, há um professor de história, morador da zona sul, que não teve o nome divulgado, e a ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi, conhecida como Sininho. Dois adolescentes foram apreendidos.
 Segundo nota enviada à imprensa, a Justiça Global enviou ofícios ao Ministério da Justiça, à Secretaria de Direitos Humanos, ao Congresso Nacional e ao Conselho Nacional de Justiça. Nos documentos, denuncia que as provas apresentadas pela Polícia Civil até agora não justificam a prisão dos ativistas, e diz que o fato de o processo tramitar em segredo de Justiça “impede o acesso à informação e a comprovação das ilegalidades das prisões”. A organização quer que a Secretaria de Direitos Humanos se pronuncie sobre as prisões e crie uma comissão especial para acompanhar o caso. Depois da declaração do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alegando que "as provas eram consistentes" contra os ativistas, a ONG reivindica que o ministério “revise seu posicionamento” sobre as prisões.  Até o fechamento da matéria os dois órgãos não haviam se pronunciado sobre as críticas. Chefe da Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, diz que "o quadro probatório é robusto e foi o suficiente para convencer o promotor e o juiz". Ele não informou, porém, qual é esse quadro contra cada um dos presos. Segundo ele, o caso corre em segredo de Justiça. Veloso disse ainda que Sininho era o "alvo principal" do grupo.
Imagem Internet
"Essas prisões são um absurdo. Elas têm caráter intimidatório sem fundamento legal com claro intuito de impedir o direito de manifestação [na final da Copa]. Acho que é uma decisão que não poderia se sustentar. Vamos entrar com pedido de liberdade ainda hoje no plantão judiciário", disse Marcelo Chalreo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, que prestava assistência aos presos, no Rio. Os presos foram levados para a Cidade da Polícia, zona norte do Rio. Policiais dizem que os suspeitos planejavam fazer atos de vandalismo em manifestação programada para a final do Mundial, no entorno do Maracanã. Para estimular a discussão, o Congresso Nacional também foi acionado para promover audiências públicas sobre a prática de imputar crimes a defensores de direitos humanos e manifestantes. Ainda segundo a organização, o inquérito é uma ameaça ao exercício da liberdade de expressão e tem o objetivo de “desmobilizar, deslegitimar, intimidar e criminalizar”, os defensores de direitos.

As manifestações populares são uma das formas mais evidentes de exercício da liberdade de expressão,  fundamental de controle democrático", afirma, em nota aos órgãos.

Ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a solicitação é para que abra processo administrativo disciplinar sobre a atuação do juiz Flávio Itabaina de Oliveira, que determinou as prisões temporárias dos ativistas. Parlamentares e advogados questionam o despacho do juiz, que mandou prender os investigados, no sábado (12), argumentando que poderiam cometer um crime. “O fundamento principal da prisão é uma previsão sobre o futuro. Foram presos porque havia indícios de que fariam manifestações violentas no dia da final da Copa. É algo bastante complicado do ponto de vista jurídico. Essa decisão é característica de um exercício de futurologia”, disse o advogado das 12 pessoas liberadas, João Pedro Pádua. Mais cedo, a organização Repórteres sem Fronteira também manifestou preocupação com a liberdade de imprensa no país. Lançou campanha dizendo que “os jornalistas são os maiores perdedores da Copa do Mundo”, e assegura que 38 comunicadores brasileiros ou estrangeiros foram agredidos pela polícia ou por manifestantes, sendo 15 em um único dia. A campanha de Repórteres sem Fronteira faz menção ao protesta na Praça Saens Peña, na Tijuca, no qual todas as vítimas, incluindo um jornalista americano, foram agredidas pela Polícia Militar. Segundo investigadores, alguns presos foram flagrados negociando artefatos explosivos em escutas telefônicas. Máscaras, explosivos e armas de fogo foram encontradas por policiais em casas de suspeitos. A ONG de direitos humanos Justiça Global reagiu às prisões e disse que a ação tem o "propósito único de neutralizar, reprimir e amedrontar aqueles e aquelas que tem feito da presença na rua uma das suas formas de expressão e luta por justiça social."

sexta-feira, 18 de julho de 2014

ELEIÇÕES ANO 2014 ! APERTO NAS MÃOS.

Eleições diretas ou indiretas, e a cargos muito variados, ocorrem em nosso território há cerca de cinco séculos. Vale a pena conhecer a história do voto no Brasil e saber como esse direito, que já foi restrito a muito poucos, se estendeu aos cerca de 130 milhões de eleitores atuais.
História do voto no Brasil
Data de 1532 a primeira eleição aqui organizada. Ela ocorreu na vila de São Vicente, sede da capitania de mesmo nome, e foi convocada por seu donatário, Martim Afonso de Souza, visando a escolher o Conselho administrativo da vila. Na verdade, durante todo o período colonial, as eleições no Brasil tinham caráter local ou municipal, de acordo com a tradição ibérica. Eram votantes os chamados "homens bons", expressão ampla e ambígua, que designava, de fato, gente qualificada pela linhagem familiar, pela renda e propriedade, bem como pela participação na burocracia civil e militar da época. A expressão "homens bons", posteriormente, passou a designar os vereadores eleitos das Casas de Câmara dos municípios, até cair em desuso. As Câmaras acumulavam, então, funções executivas e legislativas.
Cortes Portuguesas
Somente um ano antes da proclamação da Independência, em 1821, ocorreu a primeira eleição brasileira em moldes modernos. Elegeram-se os representantes do Brasil para as Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, após a Revolução Constitucionalista do Porto e a volta do rei dom João 6º. a Portugal, em 1820.
 Desde 1808, dom João governava o Império português a partir do Brasil, devido a invasão da península Ibérica por Napoleão Bonaparte. Nesse período o Brasil perdeu a condição colonial, tornando-se Reino Unido a Portugal e Algarves. Desse processo, como se sabe, resultou a proclamação de nossa Independência por dom Pedro 1º. E, com ela, uma nova ordenação jurídica e política, que apresentava, naturalmente, novas regras eleitorais.
Durante o Império
A primeira Constituição brasileira, outorgada por dom Pedro 1º. Em 1824, definiu as primeiras normas de nosso sistema eleitoral. Ela criou a Assembleia Geral, o órgão máximo do Poder Legislativo, composto por duas casas: o Senado e a Câmara dos Deputados - a serem eleitos pelos súditos do Império. O voto era obrigatório, porém censitário: só tinham capacidade eleitoral os homens com mais de 25 anos de idade e uma renda anual determinada. Estavam excluídos da vida política nacional quem estivesse abaixo da idade limite, as mulheres, os assalariados em geral, os soldados, os índios e - evidentemente - os escravos.
Quem vota hoje
Até a Constituição de 1988, o voto era um direito negado aos analfabetos, um percentual significativo da população, sem falar dos soldados e marinheiros. Não deve causar surpresa, portanto, o fato de presidentes eleitos com números expressivos, como Jânio Quadros, que obteve quase 6 milhões de votos em 1960, terem participado de eleições que mobilizaram somente 10% da população do país. A partir de 1988, com a Constituição que continua em vigor, o eleitorado aumentou consideravelmente, e veio a ultrapassar a casa dos 100 milhões. Atualmente, o voto é obrigatório para todo brasileiro com mais de 18 anos e facultativo aos analfabetos e para quem tem 16 e 17 anos ou mais de 70 anos. Estão proibidos de votar os estrangeiros e aqueles que prestam o serviço militar obrigatório.