Ordojuris.Blogspot





terça-feira, 29 de setembro de 2015

Cerveja, praia e muita seletividade: quando a exceção passa a ser a regra.

Por Frederico de Lima Santana:



Rio de Janeiro, setembro de 2015. Aqui na “cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos“, conforme canta Fernanda Abreu em “Rio 40 Graus”, vivemos tempos sombrios, quase só caos. Tempos em que o outro é visto como inimigo e as liberdades são cerceadas. Dois fatos distintos, cujos contextos possuem similaridade (ir) racional, na cantada cidade maravilhosa: liberam o consumo de cervejas nos estádios onde foi proferido, onde, dentre diversos votos, um foi a favor da liberação mas com argumento excludente que chamou a atenção, bem como querem voltar a impedir jovens da periferia carioca de irem às praias. 
Quanto à cerveja, após alguns anos de hipócrita proibição, foi liberada para ser vendida e consumida nos estádios do Estado do Rio de Janeiro. O fatídico discurso do Deputado Estadual Jorge Felippe Neto (PSD-RJ) chamou atenção: alegou que os problemas nas arquibancadas foram resolvidos com o aumento do preço dos ingressos, citando ainda episódios em que copos de xixi eram arremessados sobre a torcida (veja a partir dos 51 minutos da sessão ordinária do dia 22 de setembro de 2015 na ALERJ). Seu discurso creditou implicitamente todos os problemas dos estádios às pessoas de baixa renda que supostamente não mais frequentam estádios. Esqueceu-se, por certo, que a educação, cerne da questão, é a maior de todas as parcelas que resulta no convívio em sociedade, independentemente de renda. Este não deveria ser um argumento compatível com a conduta que se espera de um Deputado Estadual. É um argumento falacioso, seletivo, higienista e autoritarista.
Não suficiente, na mesma linha excludente e autoritarista de raciocínio e postura, o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando “Pezão” (PMDB-RJ), após os arrastões ocorridos nas praias cariocas recentemente, afirmou que, mesmo existindo decisão da justiça que impede que menores sejam presos quando não estejam presentes os ditames dos arts. 171 e 172 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)– em flagrante delito ou mediante ordem judicial – “não é hora de recuar”, asseverando que voltará a abordar e deter menores que estejam nos ônibus indo para a praia em situação de aparente ilegalidade (veja aqui e aqui) ou em suposta vulnerabilidade.
Os discursos proferidos pelos representantes da sociedade civil fomentam na mesma não só o fator medo, um dos instrumentos de controle da sociedade. Os seguidores alienados compactuam com Maquiavel: para que um fim seja alcançado, os meios adotados pouco importam. Adiciona-se ao medo outro sentimento: a insegurança, protagonizada pelos que possuem menor poder econômico e que, aparentemente, poderão cometer delitos patrimoniais ou de lesão corporal. Tais sentimentos reverberam nos “cidadãos de bem” como um sinal dissonante, formando uma preocupante estrutura baseada em interpretações que estão culminando em um estado de exceção permanente, (AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política, 2015), onde, resumidamente, o autor diz que o conceito de Povo sempre foi forjado, posto que o mesmo sempre pressupôs sentido duplo, pois, quando da Revolução Francesa, período em que ocorreu a promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, claramente optaram por um conceito de Povo fictício, onde existiriam homens e cidadãos, sujeitos distintos no ordenamento político-jurídico da época.
Como se ainda permanecesse tal revolução, que literalmente transformou todo o sistema político-jurídico à época, ainda que com algumas alterações, até os dias de hoje, outros conceitos não tão bons também foram mantidos, como o eterno duplo conceito de Povo. Digo aqui que sempre há uma parcela do Povo que é selecionada pelo poder político-jurídico para ser excluída. Essa exclusão sempre se fez presente na história do mundo. Basta lembrar brevemente da existência dos guetos, dos campos de concentração, das favelas dentre outros diversos locais de exclusão.
Todo o estado de constante exceção, seletividade e higienismo, que permanece naturalmente no sistema político-jurídico vigente, faz com que representantes políticos como os aqui citados, nunca solitários estre os seus neste empreitada, sejam acompanhados por grande parte da sociedade manipulável, que, enfeitiçada pelo medo, tenta de alguma forma resguardar sua segurança psicológica e material. Assim, respostas deturpadas geram evidente desrespeito aos três poderes, distintos, mas harmônicos entre si (Legislativo, Executivo e Judiciário). Reforçando a consequência, a já citada declaração de que, mesmo com uma decisão do Judiciário, o chefe do Executivo carioca continuará, conforme também confirmado pelo seu Secretário de Segurança, Sr. José Mariano Beltrame (leia), executando prisões arbitrárias em desfavor dos jovens das favelas cariocas para impedi-los de irem às praias onde supostamente realizarão arrastões, assim como é perceptível que a sociedade cogita reagir aos arrastões de forma anárquica conforme pode ser visto nas seguintes matérias publicadas na internet.
Assim, tendo em vista a nítida presença de um estado de exceção permanente, onde, em grande parte, pessoas de baixa renda e moradoras de áreas excluídas sempre saem prejudicadas na relação, devemos questionar a nós mesmos quando venceremos nossas mentes pequenas para a liberdade da vida, posto que tão somente quando entendermos que não só jovens da periferia cometem delitos ou que não só pessoas de baixa renda jogam copos cheios de xixi nos outros dentro dos estádios, partindo do princípio que somos todos iguais e todos temos o mesmo destino, qual seja a morte, não há porque mantermos em nosso sistema e em nossas vidas um conceito falso como o de Povo, que diariamente forja liberdades e cria exclusões, muito menos acreditando que fazendo justiça com as próprias mãos resolveremos o problema.
O que deve ser discutido amplamente não são os eventos esporádicos de arrastões nas praias ou os xixis nos estádios, mas sim as causas dos mesmos, os deveres nunca cumpridos pelos agentes políticos, assim como a necessidade de investirmos em educação de base séria e crítica para que, quem sabe, com o tempo, possamos diminuir a falta de educação existente e persistente na sociedade, não só carioca, mas como em toda a sociedade brasileira. A classe política e de segurança devem sim, agir organizada e inteligentemente para reduzir ou eliminar a possibilidade de tais incidentes sem que garantias fundamentais sejam aviltadas.
Enquanto não for compreendido que aqueles que detêm o poder são os mesmos prejudicam milhões como uma canetada só, que mantêm todo esse sistema excludente, bem como enquanto não entendermos que somos também responsáveis pela manutenção desse sistema de exceção, enquanto não começarmos a refutar todo e qualquer tipo de autoritarismo, se o medo que nos domina não virar contra os detentores do poder de oprimir, que estão sujeitos à manifestações e desobediências nossas que tenham intuito de exigir aquilo que é dever do Estado e direito de um Povo realmente único, nada mudará. Compete a nós exercer a mudança, democraticamente. Esse é o nome do jogo que rege as regras vigentes.

Até quando aceitaremos tribunais de rua conforme os aqui citados? Não são tribunais de rua as ações dos agentes políticos, de segurança, da mídia e por grande parte dos “cidadãos de bem”? Ignorância? Legítima defesa? Quanto aos leitores espero suas posições, suas respostas. Para mim, demonstra nitidamente um poder preguiçoso, má-fé de muitos e crime, além de falta de humanidade.







terça-feira, 1 de setembro de 2015

Advogada é expulsa da Ordem por mentir ao pedir reembolso de passagem de trem

Uma tentativa de ganhar dinheiro em cima das companhias de trem da Inglaterra custou o futuro profissional da jovem Nancy Lee. A entidade que regulamenta a advocacia no país, Solicitors Regulation Authority (SRA), anunciou que ela foi definitivamente banida da profissão por desonestidade. O julgamento foi feito pelo tribunal disciplinar da SRA.
Nancy admitiu ter mentido para conseguir reembolso de passagens de trem. Nos pedidos, ela alegava que o trem foi cancelado ou estava a...






fonte:http://consultor-juridico.jusbrasil.com.br/noticias/225919590/advogada-e-expulsa-da-ordem-por-mentir-ao-pedir-reembolso-de-passagem-de-trem?ref=home

O Bilhete de loteria de todo advogado

"Estudar o direito é, assim, uma atividade difícil, que exige não só acuidade, inteligência, preparo, mas também encantamento, intuição, espontaneidade. Para compreendê-lo é preciso, pois, saber e amar. Só o homem que sabe pode ter-lhe o domínio. Mas só quem o ama é capaz de domina-lo rendendo-se a ele." (Tércio Sampaio Ferraz Jr.)
Segue abaixo interessante abordagem sobre uma das mais belas carreiras já existentes, a advocacia, sob a análise do cenário atual feita pelo professor Ronaldo Gotlib, vale a pena a leitura.O título deste artigo representa uma crença que sempre tive sobre o universo do direito. Todo advogado que diariamente enfrenta com devoção e coragem os desafios de sua profissão, espera, ou deveria esperar, o dia em que encontrará seu bilhete premiado. Aquela ação que trará dinheiro e/ou reconhecimento público e, por consequência, aquele salto profissional e a definitiva virada na carreira, o sucesso propriamente dito.Todos os dias quando abro a porta de meu escritório, penso nisto. Mesmo naqueles períodos mais difíceis, que todos nós, que somos responsáveis pelo pagamento de contas, salários e impostos, enfrentamos volta e meia, este pensamento não pode ser abandonado. Pode ser um novo cliente ou um antigo... Pode ser a página de um jornal ou de um livro... Pode ser simplesmente um sinal, que precisa ser percebido... Pode ser através da fonte em que menos se espera, mas é preciso acreditar que ele já está lá e que, um belo dia, se fará presente.
O Bilhete de Loteria de Todo Advogado começou a correr quando ele recebeu sua carteira profissional e abriu, pela primeira vez, as portas de seu escritório ou entrou em seu novo ambiente de trabalho. Não custa acreditar e se esforçar para encontrá-lo. Existem ferramentas que facilitam esta busca. Como, por exemplo, você pode começar agora se perguntando: O que estou fazendo para alcançar o sucesso? Existem advogados que estudam profundamente a técnica profissional e pouco se dedicam a conhecer fórmulas para tornar-se conhecido. Aí resta a pergunta: De que adianta ser o melhor, se ninguém sabe disto? Como encontrar o bilhete de loteria premiado se você não está jogando? O que alguns chamam de sorte, já se sabe, há muito, que nada mais é além do somatório entre oportunidade e preparação.Observe sempre, a fim de encontrar boas oportunidades e esteja preparado para tirar todo proveito delas. Seu bilhete de loteria premiado está a sua espera, resta acreditar e trabalhar para encontrá-lo, afinal, a vitória é somente a consequência do que você faz a cada dia para alcançá-la.



Janot “versus” Gilmar: Justiça Fla-Flu

“Quando a lua está cheia, ela começa a minguar” (Provérbio japonês). O Brasil sempre foi lua minguante. Se ele exportasse crises seria o mais rico do planeta: crise política, econômica, social, jurídica, ética. 
As nações prósperas conseguem ver a floresta. Os países desgovernados só veem algumas árvores. O Brasil se tornou um país fundamentalistamente polarizado. Não temos projetos de Estado, de nação. Os políticos só falam em planos de governo (que dividem ainda mais a população). Chegou a hora de expurgar todos os políticos e partidos que somente pensam nos seus interesses. Todos! Parte disso está fazendo a polícia (e a Justiça). A outra parte cabe à sociedade civil. O Brasil, diante de tantas crises, sempre precisou de um projeto suprapartidário. Que nunca veio. O terrível é que a polarização encarniçada é contaminante. Praticamente ninguém escapa dessa chaga. A Justiça não é exceção. Janot “versus” Gilmar significaria PT “versus” PSDB? O debate jurídico (sobre as contas dos partidos políticos) também se partidarizou. Vejamos:
Crise política (corrupção e antirrepublicanismo):
Gilmar Mendes (vice-presidente do TSE) gostaria de ver investigadas as contas da campanha de Dilma Rousseff de 2014. Afirmou: “Não bastasse o suposto recebimento (…) de dinheiro de propina em forma de doação, há despesas contabilizadas na prestação de contas de duvidosa consistência” (Gilmar Mendes,Estadão 30/8/15: A4). O Procurador-Geral da República (que foi reconduzido ao cargo depois de indicação da presidenta e aprovação pelo Senado), de forma repentina (dando a impressão de que realmente teria havido o “acordão”), arquivou liminarmente o pedido e escreveu:
“Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre eleição se perpetuem [será?]: os eleitos devem poder usufruir das prerrogativas de seus cargos (…) [que falta nos faz o “recall”], os derrotados devem se preparar para o próximo pleito” (Rodrigo Janot,Estadão 3/8/15: A4). [Os (des) avisados falam em “acordão”. Será?
Mas veja o que Rodrigo Janot (depois de fazer uma incursão política admonitória) afirmou, ao arquivar o pedido de Gilmar Mendes:
“A Corte Eleitoral tem entendimento consolidado [em dois votos do próprio min. Gilmar Mendes] de que, após a diplomação do candidato eleito, não cabe questionamento das contas de campanha” (Estadão3/8/15: A4) [Mas se Gilmar sabia disso, por que fez o pedido? Por espetáculo? Por ódio ao PT]
As contas do PSDB também estão com problemas?
A ministra Assis Moura (do TSE) aponta 15 irregularidades nas contas da campanha de Aécio Neves (Estadão 3/8/15: A4): “Entre elas estão doações feitas pelas empreiteiras Odebrecht e Construbase, que somam R$ 3,7 milhões”. O PSDB, que já se transformou na oposição menos criativa da história, na sua resposta disse: “As doações foram todas contabilizadas”.
É a mesma desculpa dada pelo PT, pelos demais partidos políticos assim como por todos os políticos questionados. Que falta de criatividade! Caso se comprove que o dinheiro doado foi de propina, trata-se de lavagem de dinheiro; mas teriam usado a Justiça Eleitoral para o cometimento de lavagem? A que ponto chegamos? Ah se a Justiça não fosse cega perante os senhores neofeudalistas!
Nossas crises ao longo da História (o passado pode ser aprendizagem ao presente):
Não vivemos uma única crise. Nem tampouco a crise foi inventada neste século. José Murilo de Carvalho (historiador) sobre as crises do Brasil:
“Se caracterizarmos crise como coincidência de corrupção, estagnação econômica, chefe de Estado impopular e acuado politicamente, é possível sim, até onde alcança minha memória, lembrar as crises de 1954, 1964 e 1992” (Estadão 17/8/15: C2).
Em 1954, pela têmpera moral do presidente (Getúlio Vargas), tudo terminou em tragédia. Em 1964, poderia também ter terminado em tragédia pessoal e nacional, com guerra civil, não fosse pela pequena disposição de luta do presidente (João Goulart). Em 1992, tivemos uma opereta [pequena ópera de estilo leve] (Fernando Collor) (Estadão 17/8/15: C2).
“Hoje, por enquanto, temos um drama sem nenhuma grandeza, sem que se possa adivinhar o desenlace. A importante diferença entre as duas primeiras crises e as duas últimas é que nestas está ausente o pretorianismo [influência política abusiva e ditatorial do poder militar], cabendo às forças civis se responsabilizarem pelo resultado” (Estadão 17/8/15: C2) [No Brasil as forças civis se unem somente na hora dos funerais].
Crise econômica e capitalismo selvagem:
“O Brasil é um país com um componente anticapitalista fortemente enraizado na sociedade. A persistência desse elemento cultural e idiossincrático é um dos maiores obstáculos para que o país tenha nos próximos 10 a 20 anos uma pujança maior” (F. Giambiagi, Capitalismo: modo de usar, p. 4) [Se se pode praticar o capitalismo cartelizado, para quê aprender a ser competitivo? Para quê meritocracia?].
Crise social (desigualdade e suas consequências):
“Entre 2003 e 2013, o PIB per capita no Brasil cresceu 30%, e a renda média, 5,8%. A renda domiciliar média per capita de 2001-2013 cresceu 6,37 para os 10% mais pobres, 5,80 para os 40% mais pobres, 3,82 para o grupo do meio (40%90%), 2,01 para os 5% mais ricos. A renda das pessoas cresceu bem mais do que o PIB, e esse crescimento se deu mais forte na base, com a redução da desigualdade (…) Houve redução da desigualdade e aumento do bem-estar” (Marcelo Neri, Folha 29/8/15: A26) [Mas a alegria do pobre dura pouco tempo].
“Até 2014 o PIB parou de crescer, mas a renda média das pessoas continuou subindo acima do PIB (…) Agora vemos reversão muito rápida no desemprego, acompanhada de redução de salários (…) O problema é se entrarmos [“se entrarmos”!] em crise crônica” (Marcelo Neri, Folha 29/8/15: A26).
Crise jurídica (ineficiência da Justiça – ausência do império da lei):
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), confiante na morosidade da Justiça e esperando que o STF leve um longo tempo até decidir se recebe ou não a denúncia contra ele (por corrupção passiva e lavagem de capitais), oferecida pelo PGR: “O Supremo está há dois anos e meio [“dois anos e meio”!] para decidir se aceita ou não pedido dedenúncia contra Renan [itálico nosso]. Não dá para ter dois pesos e duas medidas” (O Globo 26/8/15: 5) [Confia-se na ineficiência da Justiça, sobretudo os senhores neofeudalistas que se julgam acima da lei].
Crise ética (sociedade pouco comprometida):
“Se ainda hoje lemos com proveito a Ética a Nicômaco [de Aristóteles], que está no mundo há mais de vinte séculos, é porque continua tratando de questões que ainda nos são úteis. Se me perguntassem o fundamento e o sentido disso, diria que reside na obrigação de atentar para os deveres que nós seres humanos temos para com os demais seres humanos” (F. Savater, Ética urgente, p. 14) [Logo se vê que os humanos não têm nada a ver com os “bons selvagens” da imaginação criativa de Rousseau].





fonte:http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/225957066/janot-versus-gilmar-justica-fla-flu?fonteutm_campaign=newsletter-daily_20150901_1783&utm_medium=email&utm_source=newsletter