Hoje em dias as novidades correm rápido. Rápido e informalmente. Após
a tragédia que ceifou a vida do cantor sertanejo Cristiano Araújo (29) e
sua namorada Allana (19), um vídeo e fotos do corpo do cantor chegaram a
milhões de aparelhos celulares pelo aplicativo de comunicação WhatsApp.
Muitos
se perguntaram se a divulgação dos vídeos e fotos seria crime. A
imprensa divulgou o fato, informando que as pessoas que tiraram as fotos
poderiam ser acusadas de vilipêndio de cadáver.
Fica a questão: a divulgação de foto e vídeo de cadáver configura vilipêndio?
Vilipêndio de cadáver é um crime contra o respeito aos mortos, tipificado no artigo 212 do Código Penal.
Art. 212. Vilipendiar cadáver ou suas cinzas.Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
É um crime comum,
podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive os parentes do
morto. Embora o morto seja o "objeto" do vilipêndio, o sujeito passivo
do crime é a coletividade, especialmente os familiares e demais pessoas
ligadas à vítima.
A questão é saber se a conduta de compartilhar a imagem de cadáver pelo WhatsApp está enquadrada no tipo penal. Mas, antes, o que seria vilipendiar cadáver?
O
professor Rogério Sanches da Cunha atribuiu ao termo vilipendiar alguns
sentidos: desprezar, desdenhar, aviltar, menosprezar, rebaixar. O crime
pode ter execução de forma livre:
(...) Podendo ser praticado pelo escarro, pela conspurcação, desnudamento, colocação do cadáver em posições grosseiras ou irreverentes, plea aposição de máscaras ou de símbolos burlescos e até mesmo por meio de palavras; pratica o vilipêndio quem desveste o cadáver, corta-lhe um membro com propósito ultrajante, derrama líquidos imundos sobre ele ou suas cinzas (RT 493/362). (Rogério Sanches da Cunha, Curso de Direito Penal - Parte Especial, p. 447).
No caso do cantor, é muito importante saber o que as pessoas que tiraram a foto e as divulgaram pretendiam. Queriam simplesmente divulgar a imagem do morto para alcançar o anseio de curiosidade das pessoas? Tinham interesse de menosprezar ou aviltar o cadáver?
O elemento depreciativo na
conduta é essencial para a configuração do crime de vilipêndio de
cadáver. Rogério Sanches afirma que as decisões informam ser
"indispensável o elemento moral, consistente no desejo de desprezar o corpo sem vida".
Não nos parece que a intenção de divulgar a imagem tenha ocorrido com a finalidade de escárnio ou depreciação,
senão uma conduta um tanto irresponsável e no máximo imoral. Porém, no
que se refere ao fato típico, não parece haver conduta criminosa.
A ação no caso de vilipêndio de cadáver é pública incondicionada e,
portanto, independe de implemento de qualquer condição. Pode haver
investigação pela autoridade competente e mesmo o ajuizamento da
denúncia independente do interesse das partes envolvidas.
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