Com a publicação da Emenda Constitucional 66, os casais que
desejam se divorciar podem fazê-lo sem a necessidade da separação prévia. A
medida extinguiu os prazos que eram obrigatórios para dar entrada no pedido.
Ainda que essa seja a mudança básica da proposta — a questão dos prazos — há
dúvidas em relação à aplicabilidade e entendimentos sobre os processos que já
estão em andamento e em algumas situações específicas. Um dos principais
responsáveis pela mudança que acelerou o pedido de divórcio é o Instituto
Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam). A Entidade afirma que as mudanças
seguem uma tendência de menor intervenção do Estado na vida do cidadão, e que
os contrários à aprovação adotam um discurso moralista “perigoso”. “Quando
alguém vai casar é preciso o aval do Estado, no sentido de perguntar há quanto
tempo o casal está junto? Não, portanto, no divórcio funciona da mesma forma.
Sem contar que, a partir desta emenda, há uma transferência de responsabilidade
para as pessoas, porque elas podem fazer o pedido quando acharem melhor e terão
de responder por suas escolhas.”
Para ele, a separação judicial é um instituto anacrônico,
sustentado por um discurso religioso. “A separação era um atraso na vida
daqueles que queriam se divorciar. Sem contar que ela acabava fomentando uma
discussão sem fim em relação à questão da culpa sobre o fim do relacionamento,
estimulando aquelas famosas brigas que todos conhecem. Na verdade, da forma
como ocorria, o sofrimento acabava sendo dobrado, porque havia a necessidade de
fazer a mesma coisa duas vezes”, comenta. Além disso, Pereira acrescenta que a
separação de corpos, por exemplo, foi valorizada com as novas regras, já que
continua sendo possível tirar o cônjuge de casa quando houver motivos
suficientes para isso, desde que comprovada a responsabilidade pelo ato. Na
mesma linha do Ibdfam, ele elogia o fato de a culpa deixar de ser discutida.
“Era prejudicial, porque sempre resultava nas chamadas lutas de balcão, nas
quais os casais ficavam discutindo sobre a culpa pela separação. Sem contar
que, a partir de agora, vai desafogar as pautas de julgamento dos tribunais. Em
resumo: são menos problemas e tudo está mais prático e barato.
O divórcio, quando ocorre, ou quando sua
possibilidade se torna real na vida dos casados, é uma das mais importantes
crises da vida do adulto. No casamento, ambos os parceiros mudam ou evoluem
com os anos, geralmente em diferentes ritmos, e não necessariamente em direções
complementares, podendo surgir a necessidade de separação.
Em um casamento, quando ocorre um desajuste
conjugal, a responsabilidade pelo problema é de ambos os cônjuges, mesmo que
aparentemente a situação aponte para um único responsável. Isso porque ocorre o que pode ser chamado de acordo
inconsciente entre os dois no casamento, isto é : um problema que aparentemente
é de apenas um dos cônjuges, é, em geral, compartilhado ou até mesmo aceito
pelo outro. Assim, uma pessoa ao se casar ou manter-se casada o
faz pelas virtudes do parceiro ou da própria união. Porém, com as virtudes,
aparecem as diferenças e até mesmo os problemas.
A presença de doença nos filhos também gera uma tensão ainda maior, sendo que casamentos em que um dos filhos morre por doença ou acidente têm uma tendência de cerca de 50% em terminarem no divórcio.
A separação em geral força a pessoa, antes mesmo de separar-se, a tornar-se autônoma, a sair de uma posição de dependência, sendo que esta posição pode ser difícil de ser conquistada, especialmente se ambas as pessoas estão acostumadas a serem dependentes uma da outra (como normalmente acontece no casamento, em que há dependência e uma certa mistura da vida de duas pessoas, para que ele exista satisfatoriamente.
Mais comumente, a iniciativa da separação parte
apenas de um dos cônjuges. Por vezes este poderá enfrentar sentimentos de
culpa, principalmente se o casal possuir filhos, o que intensifica a dúvida da
separação. A pessoa que toma a iniciativa poderá sentir-se causadora de
sofrimento aos filhos, a si própria e até mesmo ao cônjuge de quem está
separando-se, principalmente se esse mostra-se muito fragilizado com a
possibilidade do divórcio. De modo similar, pode ocorrer o medo e a incerteza
diante do futuro da vida de descasado, com os sentimentos de abandono, de
solidão e de vazio pela perda da relação conjugal. Por outro lado, o divórcio coloca na balança o
sofrimento que pode ser causado pela permanência em um casamento
insatisfatório. A pessoa pode sentir-se sacrificada dentro de uma relação que
não lhe permite satisfação pessoal. O amadurecimento pessoal de cada um, se for
desigual ou em direções muito diferentes, pode afastar as pessoas, de modo que
a permanência da união poderá causar problemas emocionais para um ou para
ambos. Da mesma forma, uma escolha do cônjuge que não foi
madura, em uma época muito inicial da vida ou baseada em aspectos psicológicos
doentios, como foi descrito anteriormente, pode fazer o casamento tornar-se
difícil de ser mantido, marcado por sentimentos de raiva do cônjuge, ou de
tristeza e depressão, existindo um sentido de obrigação para manter o casamento
e não um desejo sincero e maduro de mantê-lo e desfrutá-lo. Além disso, muitos casamentos podem se manter por
aspectos psicológicos pouco sadios, com poucos sentimentos de amor, carinho,
respeito, podendo predominar desprezo, raiva, inveja, que resultam em uniões
marcadas por competição, constantes acusações, brigas, agressões físicas, ou
dependência doentia de um ou de ambos os casados.
Sendo o divórcio uma crise importante na vida das
pessoas que o enfrentam, muitos procuram algum tipo de tratamento psicológico
em decorrência do mesmo, seja antes, durante, ou após a separação. A maioria das pessoas, contudo, não o fazem, seja
por não sentirem necessidade, seja por falta de condições (ou não possuírem
algum tratamento acessível) ou por falta de conhecimento a respeito de auxílios
psicológicos. Além disso, muitas vezes, no senso comum, existe a
idéia de que tratamentos psicológicos (psiquiátricos, psicoterápicos ou
psicanalíticos) fazem com que a pessoa que se trata termine por se separar. Entretanto, tratamentos psicológicos bem orientados
objetivam reduzir as perturbações no relacionamento, muitas vezes favorecendo a
manutenção do casamento e o enriquecimento do vínculo afetivo do casal. Além disso, muitas pessoas podem sentir necessidade
de tratamento após a separação, justamente pela perda que esta envolve, ou
pelas modificações de vida decorrentes da mesma. Por último, no casamento podem
ressurgir problemas psicológicos de um ou de ambos os parceiros anteriores ao
próprio casamento, mas que se exacerbam durante a vivência a dois ou em
família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário