Um homem de 29 anos foi linchado por moradores do Jardim São
Cristóvão, em São Luís (MA). Segundo a polícia civil, ele havia tentado
assaltar um bar, quando foi rendido, amarrado nu em um poste e agredido
até a morte com socos, chutes, pedradas e garrafadas. Um jovem de 16
anos que seria seu cúmplice também foi espancado, mas sobreviveu.
Foto: Biné Morais |
Fiz
questão de postar a imagem. Alguns leitores psicopatas sentirão orgasmo
com ela. Para esses, há pouco a ser feito fora da medicina. Contudo,
não acredito que a maioria de vocês ache normal uma turba de moradores
fazer justiça com as próprias mãos – e com requintes de crueldade.
Ou
indo direto ao ponto: a Lei Áurea completou 127 anos, mas a sociedade
ainda coloca negros no pelourinho. Por raiva, por vingança, para servir
de exemplo. Desde que jornalistas fizeram apologia ao fato de um jovem ter sido
preso a um poste e espancado, como punição por um suposto crime, no ano
passado, no Rio de Janeiro, a moda parece ter pegado. Pois, depois
disso, outros casos pipocaram pelo país.
"Parabéns, colegas. Parabéns a todos os envolvidos".
Foto: Mirante.com |
Teoricamente
em algum momento da história humana, nós abrimos mão de resolver as
coisas por conta própria para impedir que nos devoremos. Sei que parte
da população, cansada de esperar que o poder público cumpra seu papel e
garanta condições mínimas de segurança, ressuscita seus instintos mais
primitivos. O sistema que criamos para isso não é perfeito, longe disso,
mas é o que tem para hoje.
O Brasil não tem pena de morte.
Oficialmente, é claro. Porque muitos governos e suas polícias fingem que
não sabem disso. E, não raro, turbas processam, julgam e executam
também. Ao criticar linchamentos públicos de “culpados'' ou “inocentes'' não
defendo “bandido'' ou “impunidade'', mas sim esse pacto que os membros
da sociedade fizeram entre si para poderem conviver (minimamente) em
harmonia.
Se algo causa impacto, é claro que será copiado. Não
estou jogando a culpa no mensageiro ou dizendo que o mimetismo é a
causa, mas nós jornalistas temos certa parcela de responsabilidade. E
não falo apenas por conta da banalização da violência. É a sua
transmissão acrítica, como se notícias fossem neutras, não houvesse
contexto social e todos os receptores da informação compartilhassem dos
mesmos valores.
As pessoas veem, as pessoas copiam. E a sociedade vai indo da barbárie para a decadência sem passar pela civilização.
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