Existe uma prática cotidiana de taxar o negro de racista às avessas, quando reproduz algum tipo de preconceito a outro segmento racial. Acreditamos que para este debate é fundamental entender dois conceitos. Primeiro, o conceito de racismo. Alguns intelectuais erram quando restringem o racismo ao ódio entre as raças. O segundo ponto é a concepção de preconceito.
"A arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente do oprimido"(Steve Biko).
O racismo é o preconceito contra um grupo racial distinto, fazendo com que o grupo opressor construa mecanismos de distanciamento e de controle sobre outro grupo racial. O racismo cria mitos, padrões, formatos, critérios, etc. Esses elementos juntos conformam-se em valores morais e estéticos, formalizando o que é certo e o que não é, o que é bonito e o que é feio, o que deve ser aceito e o que deve ser repudiado. Não é necessário entrar no debate já superado sobre o conceito de raça biológica. Todos sabemos que, do ponto de vista biológico, as raças não existem. Reivindicamos a raça negra sob critério político, de um segmento étnico no Brasil, em sua maioria afrodescendentes que sofreram e sofrem preconceito e discriminação.
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Discriminação (distinção) de grupos foi uma característica muito importante na evolução da vida em grupo. Não é nenhuma novidade que tanto grupos de animais sociais não-humanos quanto grupos humanos identificam dois grupos sociais: o ”nós” e os “outros” (em psicologia evolutiva chamados “insider” e “outsider group”). Não surpreendentemente, “bárbaro” era o nome dado pelos gregos aos que não eram gregos. “Bárbaros” significa “os outros”. Da mesma forma, “tapuia” era o nome dado pelos Tupis a quem não era Tupi. Tapuia é a versão tupi de “os outros”. Também não surpreendentemente, bárbaros e tapuias recebiam significados pejorativos. “Os outros” não são somente os outros, eles geralmente são também os inimigos. Os outros não são “civilizados”, os outros não têm nossos costumes, os outros são violentos, os outros são maus, os outros não seguem nossos deuses (que são os únicos verdadeiros), os outros tem comportamentos estranhos que não são os nossos, os outros nos trazem doenças, os outros comem nossa comida, os outros nos matam, os outros merecem ser combatidos. Em suma, o inferno são os outros.
Não é muito difícil pressupor porque “os outros” são geralmente associados a coisas ruins e à violência. Grupos competem entre si. Grupos de animais da mesma espécie competem pelo mesmo recurso, mesmos alimentos, mesmo tipo de território preferido e mesmas condições ambientais ideais. A vida em grupo evoluiu trazendo vários benefícios ao sucesso de um indivíduo e de seus companheiros, mas também trazendo uma competição intergrupal.
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A discriminação (distinção) de grupo resulta em união e cooperação dos membros. Cooperar com o “nós” para vencer “os outros”. Cooperar com os próximos para vencer os competidores. Cooperação necessita de empatia. Não surpreendentemente, a maioria dos grupos animais são formados por unidades familiares, afinal é mais fácil cooperar e confiar na cooperação de um familiar.Mas note que nem sempre o “nós” e os ”outros” são inimigos. Muitas vezes estes cooperam. Geralmente os grupos cooperam quando existe uma grande recompensa suficiente para ambos, ou um grande inimigo (um “os outros” mais poderoso) e quando o risco de traição do grupo com o qual se coopera é menor do que o risco da não cooperação, ou se um grupo domina e escraviza o outro obrigando-o a “cooperar”.
Volte aos livros de história e analise as cooperações entre povos humanos ao longo dos séculos. Entretanto essa discriminação de grupos “nós” e “os outros”, presente nos animais que vivem em grupo, não exatamente corresponde ao preconceito humano. O preconceito humano evoluiu em função da vida social permitindo um maior sucesso na sobrevivência ao conseguir comida, água e abrigo (nada surpreendente até agora), mas foi carregado de particularidades humanas como religião e aspectos culturais e de dominação.
O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.
Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros.? Porque não dizer #SomosTodosfilhosDaÁfrica.? Porque não lembrar que é da África que viemos, todos e de todas as cores.? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?. Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é.
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