“Naquela campanha (Diretas Já), superamos a ditadura. Nesta, derrotamos a longa
noite oligárquica e coronelista que dominou a política maranhense”, disse,
referindo-se ao clã Sarney, que administra o estado desde a eleição para
governador de 1965 — ano em que José Sarney venceu o pleito e deu início à Era
Sarney no estado. Dino recusou-se a furar a fila ao chegar à seção eleitoral e
optou por se posicionar atrás dos que estavam preparando-se para votar.
Jose Sarney e sua filha Roseana Sarney |
O Sarney que emerge nos anos 50, substituindo o velho coronel Vitorino Freire, trazia um sopro de modernidade e uma utopia comprada por seus eleitores: a de que, tendo peso político nacional conseguiria atrair grandes obras para o estado que, por si, promoveriam o desenvolvimento. De fato, atravessam o Maranhão seis rodovias federais, três ferrovias, o estado dispõe dos maiores complexos portuários do nordeste, energia abundante de dois lados, da Chesf e de Tucuruí. E, ao mesmo tempo, ostenta os piores indicadores sociais do país. É o estado com o menor número de policiais por habitante, de leitores hospitalares, um dos três piores em educação, saúde, saneamento e qualquer outro indicador de civilização. Não tem sociedade civil, ao contrário do Ceará, lá não se desenvolveu o empreendedorismo, porque tudo submetido ao modelo oligárquico: só prosperavam negócios que interessavam diretamente aos Sarney.
Hoje em dia, o estado exporta soja in natura, por não dispor de um processador sequer. Exporta o ferro a Vale e o alumínio da Alcoa. Não conseguiu atrair uma fábrica sequer de laminado de alumínio, aço, uma indústria com cadeia produtiva robusta e não verticalizada. Os arremedos de modernização - como a tal reforma administrativa de Roseana, decantada em prosa e verso nos anos 90, não saiu do papel. Não existe um plano de desenvolvimento, anunciaram 72 novos hospitais, não entregaram dez.
No entanto, talvez seja o estado nordestino com maior potencial de desenvolvimento. Tem uma posição geográfica invejável, na transição da Amazônia com o nordeste, como ponto próximo à África e Europa, com bom regime de chuva, bacias hidrográficas perenes, 640 km de litoral e infraestrutura.Não tem mão-de-obra especializada porque povo nunca esteve na mira dos Sarney. Se der sorte, a renovação política permitirá ao estado, finalmente, completar-se.
O candidato Flávio Dino (PcdoB) decretou neste domingo (5) o fim na era Sarney no estado do Maranhão. Com 85% das urnas apuradas, candidato do PCdoB obteve 64% dos votos válidos. Seguido por Lobão Filho (PMDB), que teve 33,11% e Pedrosa (PSOL), com 1,18% dos votos maranhenses. O candidato do PCdoB repudiou as insinuações feitas por Sarney, de
que estaria por trás dos ataques do crime organizado aos ônibus da capital. “Não
estamos mais dando ouvidos a esse tipo de ataques, fruto de desespero
eleitoral”, disse o candidato. Dino referia-se a um artigo escrito por Sarney no
jornal de sua família, em que fez a acusação.
“Espero que a partir de agora o grupo que está no poder tenha uma atitude
mais digna e democrática, e que seus integrantes aceitem o resultado popular”,
afirmou. O candidato do PCdoB teve o apoio de dissidentes do PT. “Hoje viramos a
página do passado. Nosso Estado finalmente entra no século 21”, decretou, após
ter seu nome confirmado.
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