Em termos simples, validade é “estar certo”. A operacionalização de um conceito é válida quando a variável ou indicador consegue captar os aspectos centrais da teoria. Uma amostra é válida quando consegue representar bem a população. As duas últimas pesquisas divulgadas pela Rede Globo, com um intervalo de uma semana, apresentam resultados muito diferentes. Enquanto o Datafolha deu empate técnico no segundo turno entre Dilma e Aécio (distância de 3 pontos entre os candidatos) o Ibope dobrou esta diferença entre os dois ( 8 pontos entre os candidatos).
Comparando as duas pesquisas, há outras diferenças. Datafolha encontra 15% de eleitores que não opinam. Já o Ibope identifica 26% de entrevistados que votam branco, nulo, nenhum ou ainda não sabem em quem votar. Não é pouco se projetarmos o número para o total de eleitores. O Ibope mostra mais de 36 milhões de eleitores ainda fora da corrida eleitoral, enquanto o Datafolha encontra 21 milhões. Uma diferença de 15 milhões de votos.
A pesquisa Datafolha dá a liderança para Aécio apenas no Sudeste, no segundo turno. E a diferença de Dilma para Aécio fica em apenas 3 pontos. Já o Ibope mostra Aécio liderando no Norte-Centro Oeste, no Sul e no Sudeste. E a diferença fica em 8 pontos a favor de Dilma! O mais estranho de tudo é que tanto no Datafolha quanto no Ibope a diferença de Dilma para Aécio, no Nordeste, é de 30 pontos. Alguma coisa está errada na pesquisa Datafolha ou na pesquisa Ibope, já que ambas trabalham com 27% da amostra para a região nordestina. Que trabalhem os estatísticos. Aqui está o relatório Datafolha. Aqui está o relatório Ibope.
O contrário da validade é o viés. Numa pesquisa amostral, se encontramos que a média de renda é 20 mil reais… podemos saber que esse não é um resultado válido. Em Metodologia, temos dois conceitos muito importantes e complementares, validade e confiabilidade. A mensagem deste texto é simples: pesquisas eleitorais possivelmente são válidas, mas não temos conhecimento algum sobre a confiabilidade delas. Confiabilidade é precisão. Tem a ver com a margem de erro e a probabilidade de estar errado. O que aprendemos em Estatística é que pode haver todo tipo de combinação entre validade e confiabilidade. A validade não é uma coisa apenas estatística. Perguntas mal feitas geram resultados inválidos. Entrevistadores podem preencher questionários de forma errada ou mesmo com má fé. Na parte logística da pesquisa muitos problemas podem ocorrer… entrevistados podem não ser encontrados. Digitadores também podem errar… E o pior: o propósito da pesquisa pode não ser claro e a operacionalização dos conceitos pode não ter sido boa.
A confiabilidade pode ser determinada de antemão. Existem fórmulas matemáticas que determinam o tamanho da amostra. Basta definir a margem de erro máxima que se deseja e pronto. Mas existem milhares de maneiras de fazer amostra… A forma teoricamente mais simples é a chamada Amostra Aleatória Simples. Basicamente é necessário ter o nome ou uma identificação de TODO MUNDO e depois fazer um sorteio em que todas as pessoas têm a mesma probabilidade de ser sorteado. E uma vez que houve sorteio, não é permitido substituir ninguém. Essa tipo de amostra, apesar de teoricamente simples, é muito difícil de ser realizada na prática: não há listagem completa da população!! E imagine só: uma única pessoa lá do interior do Amazonas e sorteada… depois uma de Porto Alegre… e assim por diante. Ficaria muito caro mobilizar uma equipe de pesquisa por todo território nacional pra entrevistar indivíduos dispersos.
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